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Lá vai um presidente

  • por

Luiz Paulo Faccioli

Nasci fadado a ser presidente. Brinco que, sempre quando alguém que não me conhece me vê caminhando na rua, o primeiro pensamento que passa pela cabeça dessa pessoa é: “lá vai um presidente”. Não importa presidente do quê. Ou vice-presidente, que dá quase no mesmo. Talvez eu tenha nascido com uma tendência à liderança que se reflete até no meu jeito de caminhar. Por ter trabalhado muitos anos como gerente de banco, administração e finanças, que costumam representar dificuldades hercúleas para muita gente, para mim esses eram assuntos do cotidiano. Minha história com a AGEs passa por aí também.

O verdadeiro começo é que esse nome — Associação Gaúcha de Escritores — sempre teve um peso grande para mim desde que minha mulher, Cintia Moscovich, se associou à AGEs assim que publicou o primeiro livro. Mesmo antes de se tornar associada, ela já trabalhava como Assessora de Imprensa da Associação. Associar-se significava não apenas entrar para o mesmo grupo seleto onde estavam escritores que eu desde havia muito admirava, mas também — e muito especialmente — deixar de ser amador e ser reconhecido como escritor profissional. Portanto, aguardei ansioso o momento da publicação do meu primeiro livro e, com essa credencial, solicitei o ingresso no quadro de associados da AGEs, no ano de 2000.

Meu editor era o Walmor Santos, da WS Editor, que na época também presidia a AGEs. Pouco tempo depois do meu ingresso, ele chamou Marô Barbieri e eu para informar que pretendia deixar a presidência ao final da gestão e que estava propondo uma mudança estatutária que propiciava uma administração compartilhada entre presidentes e vice-presidentes como alternativa para manter a AGEs viva e atuante. Walmor se ressentia muito de centralizar todo o trabalho e de não conseguir sozinho o resultado que esperava. Foi assim que aprovamos as alterações nos Estatutos vigentes até hoje, Marô Barbieri assumiu a presidência, Jane Tutikian, a vice-presidência Cultural, Luis Dill, a vice-presidência Social, e eu, a vice-presidência Administrativa.

Marô Barbieri foi presidente por duas gestões e eu, vice-presidente Administrativo em ambas. Uma das realizações importantes daquela época foi o resgate da história da AGEs. Os documentos de fundação e dos primeiros anos estavam dispersos e dependíamos da memória dos pioneiros para preencher lacunas importantes. Conseguimos identificar todos os sócios fundadores, localizar os que ainda viviam e homenageá-los. Conseguimos também fixar a cronologia dos eventos fundamentais. Colaborou muito na organização desse material a então Secretária Geral da AGEs, Mariza Magalhães. Organizamos as finanças e regularizamos a situação fiscal. Nossa grande ferramenta de comunicação a partir daquele ano de 2002 foi o uso do e-mail. Através dele conseguíamos rapidamente contatar os associados, integrá-los e promover as atividades.

Outra realização importante da gestão Marô Barbieri foi a criação do Prêmio AGEs Livro do Ano. A ideia original, trazida pelo sócio fundador Luis Antonio de Assis Brasil, era um certame nos moldes do da Academia Portuguesa de Letras: lá, uma vez por ano, os acadêmicos se reúnem para discutir e decidir qual é o Livro do Ano. Todos os livros publicados em todas as categorias são concorrentes, mas ninguém se inscreve previamente, são os membros da Academia que decidem. Na AGEs não foi possível implantar o modelo português tal como ele é concebido, mas mantivemos o conceito de ser um prêmio de escritores para escritores.

Os Encontros de Escritores no interior do estado, dos quais os associados mais antigos lembravam com saudade, tiveram uma edição especial em Bento Gonçalves e, anos depois, em Caxias do Sul. A AGEs tinha voltado a ser uma Associação de destaque no cenário gaúcho.

Depois de duas gestões, Marô Barbieri decidiu que era tempo de deixar o comando da Associação. Disputei então a eleição para o biênio 2006/07 e segui o modelo da gestão compartilhada com Jane Tutikian, Christina Dias e Marcelo Spalding nas vice-presidências. E depois a reeleição para o biênio 2008/09, quando Oscar Bessi Filho substituiu Marcelo Spalding como vice-presidente Administrativo. Com essas equipes maravilhosas, desenvolvemos um belo e prazeroso trabalho. Na realidade, vejo meus oito anos na Diretoria da AGEs, primeiro como vice-presidente Administrativo e depois como presidente, como partes de uma mesma gestão.

Promovemos saraus e uma atividade interessantíssima em que mensalmente um associado era apresentado ao público por um artista de outra área. A maioria desses eventos foram realizados em parceria com a Casa de Cultura Mario Quintana, na época dirigida por nosso sócio fundador Sergio Napp. Também disputamos e conseguimos uma vaga no Conselho Estadual de Cultura, o que também significou uma chancela importante de nossa existência como entidade representativa dos escritores gaúchos.

Ao longo do tempo, desde que acompanho o trabalho da AGEs de diferentes perspectivas, tanto como associado como de diretor, observo mudanças sutis de condução e de atuação, mais por causa de fatores externos do que propriamente de conjunturas e visões internas. Há anos paira entre nós o pensamento de que a AGEs deve investir para se tornar um sindicato ou conselho de classe, formalizando assim seu papel de representante dos escritores junto à sociedade. Esse é um objetivo que fica a cada dia mais difícil de ser conquistado. A meu ver, a integração do corpo associativo é ainda o motor que faz a AGEs andar e crescer; o reconhecimento, o que traz a legitimidade para que ela atue como representante.

Em 2006, quando a AGEs completou 25 anos de existência, a data foi comemorada com um encontro festivo para o qual foram providenciados troféus aos sócios fundadores. Neste ano de 2023, temos a comemorar os 42 anos da Associação. E logo adiante, em 2031, o Jubileu de Ouro. Já adianto que quero estar presente a essas comemorações todas.

Viva a AGEs!