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Carta sobre a desativação da Biblioteca Central da Smed

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Ofício nº05/2021

Porto Alegre, 14 de abril de 2021

À Sra. Janaína Audino. Secretária Municipal – SMED

A AGES vem acompanhando com grande preocupação o desenrolar dos acontecimentos que cercam a desativação da Biblioteca Central da SMED pela Secretaria Municipal da Educação de Porto Alegre. Consideramos que a decisão desta desativação é precipitada e embasada em dados não confiáveis.

Estamos tratando de uma biblioteca especializada e de referência com mais de 50 anos de serviços prestados à comunidade escolar porto-alegrense, neste sentido, pelo seu valor e significado, entendemos que deva haver, ao contrário do que se pretende, uma atenção ainda maior a esta biblioteca, bem como substanciais aportes aos projetos de incentivo à leitura vinculados a ela.

Estamos extremamente apreensivos com a notícia de que o acervo voltado à literatura infantil e juvenil venha a ser distribuído indiscriminadamente às bibliotecas escolares. Asseveramos a nossa contrariedade a esta ideia temerária. Neste acervo se encontram os 20 anos do projeto Adote um Escritor. Os títulos adotados desde a sua primeira edição até a sua última edição. Nele a guarda da memória dos 20 anos de um projeto reconhecido nacional e internacionalmente. Não apenas. A biblioteca da SMED é guardiã de um acervo/referência da literatura gaúcha, afro-brasileira e indígena, voltada à infância e juventude. Imaginar este patrimônio disperso é impensável. Seria um equívoco com consequências graves à cultura do Rio Grande do Sul e do Brasil. Tal acervo representa subsídio fundamental não apenas para professores e professoras das escolas municipais de Porto Alegre, mas para estudiosos e pesquisadores de todo o mundo. Em 2015 a bibliotecária, Hanke Sühl, da biblioteca municipal de Frankfurt, esteve em Porto Alegre por 4 semanas para conhecer a biblioteca central da SMED e sua práxis na rede escolar. Este exemplo dá conta do interesse universal que nosso acervo representa.

Nesta quadra da vida do nosso município não podemos desconsiderar os erros evidentes da administração anterior nem o impacto nefasto da pandemia sobre a biblioteca, impacto que atingiu também outros setores da rede escolar. Não é hora para precipitações e gestos contrários aos interesses da universalização do acesso ao livro e à leitura.

Por estas razões, vimos solicitar à sra. secretária que as mudanças em curso sejam pausadas para darem lugar a um diálogo qualificado com a sociedade civil, diálogo este que resguarde a importância deste espaço para as políticas públicas de leitura da Capital, e, especialmente, que preserve o acervo de referência existente, expressamente, do projeto Adote um Escritor, da literatura gaúcha infantojuvenil e demais acervos voltados à infância e juventude.

Att.

Alexandre Brito

AGES – Associação Gaúcha de Escritores